sábado, 19 de junho de 2010

Lao Tse e o Tao Te Ching


Pouco se sabe com certeza sobre Lao Tsé. Há uma obra chinesa muito antiga chamada Shi Chi (Apontamentos Históricos) que diz que Lao Tsé, cujo nome real era Erh Dan Li, teria nascido no Sul da China, numa região chamada Ch'u, em torno do ano 604 a.C. Mas também há os que afirmam que o Tao Te Ching é apenas uma compilação de versos de vários pensadores de escolas de pensamento do 3º século a.C., que genericamente usavam o título de Lao Tsé.

Segundo as tradições, Lao Tsé foi contemporâneo de Kung Fu Tsé (Confúcio), de quem foi discípulo. Tornou-se o guardião dos arquivos do Tribunal Imperial, e atraiu muitos seguidores com sua sabedoria, embora sempre haja se recusado a fixar suas idéias por escrito, por temer que as palavras pudessem ser convertidas em dogma formal. Lao Tsé desejava que a sua filosofia permanecesse apenas como um modo natural de vida estabelecido sob uma base de bondade, serenidade e respeito. Assim, ele não estabeleceu nenhum código rígido de comportamento, preferindo ensinar que a conduta de uma pessoa deve ser governada pelo instinto e pela consciência. Ensinava que nenhuma tarefa deveria ser apressada, que tudo deve acontecer no seu devido tempo. Acreditava que a simplicidade era a chave para a verdade e a liberdade, e assim encorajava seus seguidores para observarem mais a natureza do que aos ensinamentos de mestres.

Aos 80 anos, desiludido com as pessoas da sua terra - que estavam pouco dispostas a seguirem o caminho da bondade natural - se dirigiu para o Tibet, na fronteira ocidental de China, quando foi reconhecido por um guarda, que lhe lembrou que possivelmente todos os seus ensinamentos logo cairiam no esquecimento se alguma coisa não ficasse gravada, e só permitiu que ele deixasse a China após escrever seus ensinamentos básicos, para que pelo menos parte de seu conhecimento pudesse ser preservada para a posteridade. Atendendo ao pedido do guarda, de uma só vez Lao Tsé redigiu (reza a lenda que escreveu numa grande pedra) a coletânea dos 81 versos que se tornariam a síntese de sua sabedoria (e do pensamento Monista Chinês), que entrou para a história sob o nome de Tao Te Ching.

muitos sentidos para o significado do nome Tao Te Ching. Um deles o define como "As Leis da Virtude e seus caminhos". Suas palavras isoladas significam: Tao (Infinito, a Essência, a Consciência Invisível, o Insondável, o como, de como as coisas acontecem.); Te (que significa força, virtude, mas de uma forma não ligada aos nossos valores ocidentais); Ching (livro, escrito, manuscrito). Literalmente, portanto, significa "O livro de como as coisas funcionam", e na realidade é este o seu objetivo, mostrar como as coisas no universo funcionam segundo o Tao. Também significa "O Livro que Revela Deus" e "O livro que leva à Divindade".

Coerentemente com a sua maneira, Lao Tsé não o escreveu por princípios doutrinários, e sim aforismos (versos), de forma tal que pudessem ser adaptados por qualquer pessoa ante diversas situações. Algo aplicável a tudo e a todos; um texto de natureza aberta que não possibilitasse uma forma textual capaz de ser desvirtuado intencionalmente, ou simplesmente ser deformado pelas traduções; uma maneira de aplicação prática de se viver em harmonia, dentro do equilíbrio das polaridades da manifestação do Tao e simbolizada pelo Tei Gi (a figura abaixo, no centro):

O Taoísmo baseia-se num dos Princípios Herméticos - o Principio da Polaridade - que diz ser a natureza bipolar, pois tudo nela tem um oposto. Na essência o universo conhecido é composto de componentes opostos; por vezes físicos (claro/escuro), morais (bom/ruim), biológicos (masculino/feminino) etc. Tudo no universo pode ser classificado em duas polaridades: Yang (pronuncia-se "yong") ou Yin.

Uma indagação comumente feita diz respeito à diferença que existe entre o Taoísmo e o Confucionismo. O Taoísmo tem base metafísica e com aplicação prática. Confúcio foi mais um legislador, cujos ensinamentos ser direcionam mais para o aspecto político da vida.

Aquele que conhece o outro é sábio.

Aquele que conhece a si mesmo é iluminado.

Aquele que vence o outro é forte.

Aquele que vence a si mesmo é poderoso.

Aquele que conhece a alegria é rico.

Aquele que conserva o seu caminho tem vontade.

Seja humilde, e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.
Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo.

O sábio não se exibe, e por isso brilha.
Ele não se faz notar, e por isso é notado.
Ele não se elogia, e por isso tem mérito.
E, porque não está competindo,
ninguém no mundo pode competir com ele.
(Lao Tsé - Tao Te Ching - verso 22)

Texto do site: Saindo da Matrix

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O valor de um coringa - O que é ser um herói?

Nunca gostei das histórias de super-heróis como o Superman, Homem Aranha, Capitão América e etc. Sempre achei que esses personagens só representavam como os defensores da pátria americana, mostrando ao mundo quem é que "manda na bagaça" e usando sempre uniformes com as cores da bandeira da terra do Tio Sam. Com seus superpoderes que por muitas vezes não fazem muito sentido e que os tornam até contraditórios.

O pior de todos era o Batman, que além de ter o Robin como ajudante (que considero muito tosco), não tinha nenhum poder especial, além de ser muito rico.
Mas, depois que assisti ao filme Batman Begins comecei a ver esse herói com outros olhos. Comecei a perceber que ele é o mais realista de todos os heróis.
Primeiro que, ele não usa aquele patriotismo todo, dizendo que é de New York City com uma roupa azul e vermelha e que vai salvar o restante do mundo contra as "forças do mal". Seu uniforme é preto e o filme todo é focado apenas em uma cidade fictícia. Segundo porque não usa poderes sobrenaturais, seu poder é a sua inteligência, seu dinheiro e a tecnologia (por mais que a tecnologia que ele utiliza no filme está longe da nossa realidade, mas isso não vem ao caso). E outro ponto que o considero como um herói de verdade, é o fato de que o seu primeiro "inimigo" foi o trauma que vivia dentro de si mesmo desde a sua infância, com o assassinato de seus pais e o medo de morcegos. E dividir esse trauma com os seus inimigos foi o que o tornou a ser o Cavaleiro das trevas!

Mas estou querendo mesmo é falar do seu principal inimigo, o Joker, mais conhecido como Coringa, que pra mim tem um significado muito mais importante. Esse cara sim foi o motivo pelo qual eu comecei a gostar de Batman.
Vejo o Coringa como um ser oposto ao Batman. Um anarquista geral. Não liga para o dinheiro e muito menos para status. Ao contrário do Batman, é um personagem muito irônico e sarcástico. Sempre com um "sorriso" no rosto, prefere não ser normal, ou seja, não seguir normas. O mundo para ele é um absurdo. Não liga para nada, está ali apenas para fazer parte do jogo. Tanto que ele mesmo "ama" o Batman e esse "amor" que existe entre os dois me lembra até uma música do Rob Halford chamada: "The one you love to hate"(Aquele que você ama odiar).

O objetivo do Coringa não é matar o Batman, mas sim derrotar ao único homem que crê rivalizar com ele em genialidade, convertendo-o mundo dos loucos, não tornando-o um mártir, mas sim mostrando que tinha razão em ser louco, anárquico, niilista, caótico, sem esperanças.

Em uma conversa, o Coringa conta uma piada ao Batman:

"Dois loucos fugiram do asilo, mas teriam que atravessar um precipício para finalmente conseguirem escapar, nisso um fala para o outro:

-Vamos lá, eu acendo a lanterna e você atravessa por cima do feixe de luz.
E o outro responde:
- Você acha que eu sou louco??? Vai que você apaga a lanterna e eu caio lá embaixo!"

Nisto o Coringa começa a rir de repente, o Batman esboça um sorriso e logo solta uma gargalhada junto com seu maior inimigo, ou seja, quem é o certo nesta história? O Coringa que quer provar a todos sobre a loucura ou o Batman que tenta mostrar o "lado correto" da justiça.

Indo além do filme, imagine um deck de baralho comum. Geralmente existem 53 cartas sedo que 52 seguem um padrão, divididas em 4 naipes e com valores diferentes. A carta que sobra é um coringa. Mas qual é o valor de um coringa nesse baralho todo?
Ai é que está, pois o coringa ao mesmo tempo em que tem um valor ele não tem um valor. É uma carta especial. Não segue naipes, não segue normas, regras e não faz parte do padrão "social" das cartas. O coringa é o grande filósofo de todo o baralho!
O coringa, é como uma "metamorfose ambulante", não levanta bandeiras do coletivismo, ergue apenas a sua, pois ele é egoísta e de certa forma, o "auge do seu egoísmo é querer ajudar" as outras cartas.

Mas no fundo, o coringa vive na solidão consigo mesmo. Ninguém o entende. E de certa forma, ele precisa das regras do baralho para quebrá-las. É um anarquista, e no entanto, por mais que queira mostrar uma saida para a liberdade no meio do baralho, prefere que os reis, os valetes e as damas continuem alimentando e mantendo vivas as normas que existem dentro do "monstro sist". Afinal, qual seria a graça de um baralho só com coringas, ou um coringa sem o restante dos "normais" e bonitinhos? Qual seria o valor do diamante, se todas as pedras fossem diamantes?

Enfim, o coringa é visto como um vilão para a sociedade. Mas comparando aqueles "heróis" que citei no começo, carregando suas bandeiras e com superpoderes para manter a sociedade em ordem pergunto: O que é ser um herói?

Viva aos grandes coringas que moveram esse grande baralho que chamamos de Mundo!

- Japoneis -

Por que Anarkilouco?

Porque "a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal". - Raul Seixas -

terça-feira, 15 de junho de 2010

Órgão

Um homem não pode carregar toda a dúvida do mundo em suas costas. Um homem é antes de mais nada apenas um fenômeno. Mas com exagerada frequência, o Homem toma a consciência do mundo pra si. Acho que isso é ir longe demais. A alma do mundo toca no órgão da história do qual cada um de nós somos apenas um tubo. Mas não quero entupir a passagem de ar do meu tubo com minhas dúvidas! Preciso cantar a minha nota de forma que ela possa ser ouvida em toda catedral. De qualquer forma, não tenho mais do que uma voz. Quando a alma do mundo me preenche com seu sopro, eu me ponho a assobiar alegremente. Eu sou um tom, uma cor e uma nuance no Universo. O protesto eu prefiro deixar para os outros. O contraponto é formado pelos outros tubos do órgão. Sem falsidade, eu passo a ser eu mesmo. Francamente, só posso ser eu mesmo porque sei que sou também todos os outros. Também sou aquilo que duvido. Também sou aquilo em que não acredito. Como tubo, estou ligado ao fole do órgão, a fonte original que sopra a vida em todos os tubos. Na verdade, o que pensamos não tem nenhuma importância. Afinal de contas, todos nós temos razão.

- Jostein Gaarder -